TUM Drops com Nando Mello

Postado em 25/10/2018, 0:00

TUM Drops com Nando Mello

Nando Mello é baixista das bandas Hangar, Riffmaker e BSides. Atua também como representante comercial da Fender no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e é especialista dos produtos D’ Addario no Rio Grande do Sul.

1) O Hangar é uma banda de heavy metal com mais de 20 anos de estrada e figura entre as principais bandas brasileiras do segmento. Com o Hangar você realizou um extenso trabalho tocando pelo Brasil, assistindo de perto os pontos positivos e negativos do cenário rock e heavy metal brasileiro. Na sua opinião, quais são os maiores desafios para empreender uma banda de rock ou heavy metal no Brasil?

Nando Mello – Essa é uma pergunta bem complexa, mas que sempre tive vontade de responder. Falar do Hangar é falar de muito trabalho, momentos maravilhosos e também adversidades comuns a quem faz música, principalmente heavy metal no Brasil. A banda foi formada em Porto Alegre em um bairro da zona norte, isso foi 1997. Sempre mantivemos o pensamento em ir à frente da maneira mais correta possível. Profissionalismo extremo, trabalhando muito. Desde o início tentamos sempre saber o que poderia ser feito para que a banda conseguisse um reconhecimento maior a cada CD. Tivemos passagens incríveis, sacrifícios que as vezes alguns não entendiam, mas nós éramos loucos para fazer a coisa acontecer. Viagens de 60h para tocar no Nordeste, foram duas de ônibus de linha, duas de Van e mais duas com nosso próprio ônibus. Ao longo dos anos conseguimos despertar o reconhecimento do público, mídia especializada, empresas e principalmente dos fãs. Sempre procuramos quebrar as barreiras do termo “heavy metal”. Gravamos um CD e um DVD completamente acústicos, justamente para marcar essa característica. Uma das passagens mais legais foi em 2009, quando gravamos uma música do Renato Russo e do Flávio Venturini com a banda Roupa Nova fazendo todos os vocais, fato inédito para uma banda brasileira. Lembro que em 2011 fomos a um show do Roupa Nova em São Paulo e chegando no local, uma recepcionista nos levou até a mesa número DOIS, na frente do palco. Tinha umas 5 mil pessoas no ginásio e nós ali, de preto e cabeludos. No final do show, o guitarrista do Roupa Nova, Kiko, chegou no microfone e disse : “eu queria uma salva de palmas para a uma das maiores bandas de metal do Brasil, Hangar aqui na frente.” . O ginásio veio abaixo. Quando os caras tocaram “Nos Bailes da Vida” do Milton Nascimento, eu olhei para o Eduardo Martinez e ele estava chorando. Havia uma explicação, estávamos com nosso ônibus realizando uma tour de 80mil km e 250 eventos. Tinha tudo a ver. Somos e fomos uma banda que colocou o pé na estrada. Existe uma série grande de riscos e adversidades para quem faz esse tipo de música no Brasil. O nosso segmento é muito restrito. Eu acho que uma das grandes diferenças entre os estilos de música que são predominantes agora e o segmento rock, ou heavy metal é exatamente que publicamente não se discute muito o negócio “metal”. Fomos “educados” para tratar uma banda ou artista que toca heavy metal como “ases da guitarra, ou da batera”, mas não como um cara que agencia a sua carreira. Hoje vemos em vários canais de comunicação, artistas de segmentos como sertanejo, funk etc falando abertamente sobre como gerenciam suas carreiras nacionais e internacionais. Isso mudou um pouco nos últimos anos, mas acho que atrapalhou muitas bandas que não prosperaram ou desistiram da sua carreira. Considero o Hangar um case de sucesso. Saímos da zona norte de Porto Alegre para uma carreira com sete CDs, dois DVDS, vários clips, lançamentos no Japão, Europa. Tocamos até no famoso “Programa do Jô”, lugar onde talvez somente duas ou três bandas de metal estiveram. Temos que agradecer principalmente a uma legião de fãs que viraram nossos amigos ao longo dos anos e que sempre nos apoiaram. Talvez o que tenha faltado foi a tour fora do país, mas foi uma escolha nossa. Fomos convidados mais de dez vezes, mas decidimos ficar no Brasil porque era mais vantajoso financeiramente. Para terminar, nossas palavras chave sempre foram “credibilidade” e “empatia”. Gere créditos com seu trabalho para que as pessoas acreditem no mesmo e façam a troca com você. Trabalhe muito. Vale a pena.

2) Além de músico/baixista você também atua como representante comercial da icônica marca de instrumentos musicais Fender e também como especialista de produtos da D ́Addario. Conte-nos um pouco como foi unir estes dois lados e quais resultados eles trouxeram.

Nando Mello – Tem sido maravilhoso nos últimos 7 anos. Eu já tinha uma carreira de trabalho em duas grandes empresas multinacionais de telecomunicações e TI durante cerca de 10 anos na área comercial e de treinamentos. Nessas duas empresas eu tive o privilégio de participar do start, da formatação das empresas no Brasil. Foi um aprendizado para toda a vida. No final de 2007 sai do meu último emprego formal e fui me dedicar somente ao Hangar. Quando eu percebi que haveria a necessidade de complementar meus horários e renda, tive que pensar em algo que unisse o trabalho com a banda e alguma outra possibilidade. Ser professor de música nunca foi uma opção. De 2007 a 2011 a banda teve uma visibilidade imensa e isso despertou o interesse de inúmeras empresas. Durante a feira de Instrumentos musicais, Expomusic, em 2010, conheci o pessoal da Pride Music que fez uma proposta de apoio para a banda com as marcas Jackson e Korg. Foi meu primeiro contato e aproveitei e fiz uma proposta de trabalho. A empresa nunca havia trabalhado com esse modelo de representação. No ano seguinte em 2011 voltei a empresa para uma visita, acompanhado do Aquiles Priester e fizemos uma reunião com o Diretor Comercial, Marcos Brandão. Em setembro de 2011, novamente durante a Expomusic, mais uma vez fui até o Brandão e refiz a proposta. Ele me deu ok e exatamente no dia 10/10/2011 fiz minha primeira visita como representante da Pride Music no Rio Grande do Sul. Eu condicionei meu trabalho com a agenda da banda a partir de 2012. Mapeei todo o estado, lojas etc.. Muitas eu já havia passado fazendo workshops, então ficou tudo um pouco mais fácil. É diferente quando você já tem um trabalho musical e vai até uma loja onde a tua banda já passou ou onde teu CD ou DVD está à venda. Não fica mais fácil, mas fica diferente. Na minha primeira visita a uma loja da serra do RS tive que tirar uma foto com o pessoal pra colocar no mural da loja, foi engraçado. Hoje isso já passou. Uma das minhas características é incorporar o trabalho, fidelizando e vestindo a camiseta verdadeiramente. A Pride Music tem marcas icônicas no seu portfólio e o direcionamento da empresa coincide muito com a minha maneira pessoal de agir, retidão, honestidade e profissionalismo. Só tenho a agradecer ao Marcos Brandão pela oportunidade que ele e a sua equipe me deram, sou muito grato e devo o que aprendi e estou aprendendo a essa confiança que ele depositou em mim.

Quanto a Daddario, eu tenho uma relação com a Musical-Express desde março de 2008. São dez anos no D´Addario Team como endorsee. No final de 2015 a empresa precisou de uma pessoa para acompanhar duas contas, as redes Multisom e Milsons no RS. Não é um trabalho de vendas, mas sim um trabalho de posicionamento das marcas no ponto de venda e treinamento aos vendedores. É diferente do trabalho com a Pride Music. Tenho todo o suporte da equipe de Supervisores ( Edilson Banzai, Marcelo Jesuíno, Anderson Sukenski) e também do representante de vendas aqui do RS, Claiton Lauschner. É uma relação de confiança de dez anos com a família Tonelli, me sinto bem a vontade com a empresa.

Para encerrar saliento que a minha identidade de músico acabou somando muito a essas tarefas. Hoje as atividades extra venda, como workshops, palestras, show room, exposições, faz parte do pacote de atendimento. Surpreender o cliente, deixa-lo satisfeito, faze-lo “experimentar” a sensação do instrumento, da música, da possibilidade de compartilhar a sua sensação. Essa é a diferença que eu procuro e tenho sido suportado em muito pelas empresas que trabalho. Muito gratificante atender essas 180 lojas e um agradecimento mais que especial a todos os lojistas que ao longo desses anos me aguentam, haha.


3) Qual conselho você daria para um músico que busca algum tipo de apoio ou patrocínio de uma empresa que importa ou fabrica instrumentos musicais?

Nando Mello – A pergunta já resume bem uma ótica que eu acho equivocada sobre o assunto. Primeiro o músico deve fazer o seu papel com a arte. Plantar, sem pensar em patrocínios ou apoios. É importante? Sim. Ajuda? Sim, mas o que vejo hoje, são pessoas que não tem nenhum trabalho gravado, ou ainda sem uma devida relevância artística, procurando desesperadamente por um patrocínio. Isso não vai acontecer. As empresas não colocam seu dinheiro em alguém que ainda não está preparado para dar retorno. Hoje em dia, não precisa nem ser um CD , existem outros canais onde você pode “brilhar”, YouTube, Facebook, ser um especialista etc… Algumas marcas enormes, tem em sua política de marketing, a premissa de não precisar de nenhum artista para posicioná-las. Existem também marcas grandes que acham legal ter alguns nomes vinculados. Tudo depende da famosa “verba e política de endorsement”. Um dos maiores erros é pensar que é fácil e que todo mundo “ganha” equipamento. Não é verdade. A maioria dos apoios gira em torno do pagamento de pelo menos o custo do material. Eu recebo pedidos de indicações de no mínimo umas duas pessoas por mês. Tipo assim: “ To gravando meu CD, tem como mandar meu material pra Zildjian?”. Muitas vezes eu repasso para a empresa, mas sou obrigado a filtrar, faz parte da minha rotina. Já que a pergunta é sobre um conselho eu diria isso mesmo, plante, faça pela arte e pelo seu talento, torne-se relevante para a sua arte e depois busque alternativas que supram sua necessidade, seu sonho. Geralmente marcas médias e menores precisam veicular seu nome através de artistas, mesmo que iniciantes. Talvez por aí seja um caminho para iniciar uma longa jornada. Uma das coisas mais importantes é manter-se fiel a marca que te apoiou, que apostou em você. Não pegue produtos para apenas vender depois. Em uma Expomusic no ano de 2010 o gerente de uma grande empresa nacional me disse: “respeito muito a maneira como o Hangar trata suas marcas, vale a pena trabalhar com vocês”. Eu estou a sete anos com a Fender e Squier by Fender, e dez com a Daddario, o Cristiano Wortmann a seis com Daddario , Fender e Jackson, o Fábio Laguna está a sete com a Korg e o Aquiles a quinze ou dezesseis com a Mapex e Paiste. Fidelize o seu apoiador.


4) Quais conselhos você daria para quem deseja trabalhar com música no Brasil?

Nando Mello – Corra atrás do seu sonho. O trabalho, música, tem muitas nuances e facetas. Você pode tocar, dar aulas, pode ser um músico de estúdio, ter seu estúdio, acompanhar alguém em uma banda, orquestra, tocar em bares, bailes, lojas, dar aula em alguma faculdade ou até mesmo ser um representante de vendas, hahah. Caso você opte pelo trabalho autoral, saiba lidar com o mundo artístico, musical. Saiba que não é só música, que tem o negócio música caminhando paralelo. Saiba que a sua música excelente pode ter mil views no YouTube, enquanto aquela música que você acha terrível com uma vocalista que nunca fez uma aula de técnica vocal tem dez milhões. Entenda os porquês e os caminhos e esteja preparado. Saiba que o sucesso pode estar ali no seu nicho de mercado e não necessariamente nos “50 Mais Brasil”, ok, melhor se estiver, rsrs, mas esteja preparado ao máximo.

 

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