Tum Drops com Adair Daufembach
O Festival de Música de Santa Catarina apresenta Adair Daufembach no TUM Drops
O Tum Sound Festival, festival de música de Santa Catarina apresenta:
Adair Daufembach
É produtor musical catarinense e atualmente mora em Los Angeles, California. Já trabalhou com Tony MacAlpine, Aquiles Priester, Hangar, Project 46, entre outros.
1) Você atuou de forma intensa produzindo muitas bandas do movimento União Underground onde presenciamos o surgimento de bandas de Metal cantando em português. Podemos citar a banda Project 46 como uma das maiores representantes deste movimento. Como você vê o futuro deste movimento e o que seria necessário para a existência de um mercado forte e sustentável para este gênero no Brasil?
Eu acho que esse movimento foi muito importante para que as pessoas vissem que cantar em português funciona e o futuro dele é esse: cada vez mais artistas/bandas talentosas cantarão em português e menos pessoas passarão em branco pela música.
Cantando em português todo mundo entende as suas letras e a mensagem fica mais fácil de ser entendida. É mais fácil criar uma fanbase dessa forma. Cantando em inglês a maioria das bandas não consegue dizer o que quer e a maioria das pessoas não consegue entender, mesmo quando a banda escreve bem em inglês.
Eu não costumo dizer que “cantar em inglês não dá certo” (não mais pelo menos, rs.) o que eu digo para todas as bandas é que se você quer cantar em inglês é porque você quer expandir a sua música para fora do Brasil, certo? Então vá! Faça algo fora do Brasil. Ache uma forma de tocar fora, de criar laços fora do país. Viaje, procure lugares para você tocar, faça qualquer coisa que não seja apenas mandar e-mail para gravadoras “gringas”. Não faz sentido nenhum você gravar música em inglês para tocar no Brasil.
Eu já tive o prazer de ir a shows com gente chorando ao cantar os refrões de algumas bandas que eu produzi, foi emocionante, o melhor sentimento que eu já tive na vida. Eu também já tive o prazer de ir ao Rock in Rio assistir duas bandas que eu tinha produzido. Nenhum desses momentos aconteceu com bandas que cantavam em inglês, infelizmente.
A sustentabilidade desse movimento depende muito do fim da crise econômica brasileira. Lá por 2012-2015 várias bandas estavam fazendo shows pelo Brasil inteiro e vendendo muito merch, que é o segredo para uma banda poder ter lucro. Essas bandas começaram a se tornar sustentáveis (não davam lucro, mas também não ficavam no negativo), mas foi visível que a crise econômica atrapalhou muito. Dessa época para cá, várias casas de show fecharam, as pessoas tem menos dinheiro para lazer e obviamente isso afeta as bandas negativamente. Resumindo, uma melhora na Economia é fundamental, mas também é necessário uma melhora na “visão de negócio” do músico brasileiro em geral. Estamos em 2018, não há mais gravadoras lançando bandas e ainda existe um sentimento no músico iniciante (as vezes músicos com anos de experiência também) com a visão: “Alguém vai me descobrir e me lançar”.
Isso acabou, a única possibilidade de um gravadora se interessar pelo seu trabalho é se você já não precisa mais de ninguém para fazer os seus negócios. A gravadora, ou o empresário vão querer entrar num negócio que já dá dinheiro e que ao investir nesse negócio ele dará mais dinheiro, não existe hoje gravadora apostando em bandas novas, apenas no que já está dando certo.
2) Quais as principais diferenças que você observa entre o cenário musical norte-americano e o brasileiro?
A principal diferença é a condição econômica. Aqui a crise do mercado da música também está devastando a tudo e a todos, mas a diferença é que se o músico não consegue mais ganhar tanto dinheiro com música ele não precisa sofrer tanto para mantê-la com dinheiro do próprio bolso, porque tudo é mais barato e qualquer emprego paga o suficiente para você ter uma vida decente. Nos EUA uma pessoa com emprego ruim compra facilmente uma guitarra e um amp muito bom com uma semana e meia de trabalho e ainda sobram duas semanas e meia para juntar dinheiro para as despesas gerais. No Brasil um pessoa com um emprego ruim precisa trabalhar 6 meses para comprar o mesmo equipamento. Resumindo, aqui o cara pode ficar mais tempo apostando no seu sonho, mesmo que a música não esteja dando retorno ainda.
Uma das coisas que eu acho legal de ressaltar é que o americano ele é melhor em gerenciamento, melhor em fazer as coisas gerarem dinheiro, mas ele não é melhor em “fazer música”. Eu percebo hoje como o músico brasileiro é em geral muito mais caprichoso do que o americano, a gente é muito mais apaixonado por música do que o americano. O que realmente nos derruba é a falta de visão disso como um negócio, nisso eles nos engolem.
3) Na sua visão de empreendedor, quais as diferenças que você observa entre empreender um estúdio de gravação no Brasil e um nos Estados Unidos?
A minha decisão de se mudar para os EUA esteve sempre mais relacionada ao fato de eu buscar uma vida mais saudável, em que eu tivesse que trabalhar menos, do que propriamente algum “plano maligno” para dominar o mundo, rs. Tanto que eu gosto muito quando bandas brasileiras vem para cá gravar, como já fizeram Project46 e Maieuttica. O cálculo aqui é muito simples, eu preciso trabalhar menos horas por mês para manter uma qualidade de vida melhor que no Brasil.
Obviamente que eu sempre quis morar em Los Angeles e eu estou com sangue nos olhos para fazer a parada acontecer. Por exemplo, saber que o estúdio do Chris Lord-Alge fica apenas a 15 milhas do meu estúdio faz você repensar a sua profissão, faz você querer ser melhor. A possibilidade de a sua carreira crescer aqui é real, mas a concorrência também é gigante. Se eu não tivesse aqui eu não teria a oportunidade de trabalhar com artistas como Tony MacAlpine e Dikr Verbeuren (baterista do Megadeth). Então aqui existe muito mais oportunidade, lógico, mas o principal diferencial é a questão econômica.
4) Na sua opinião, qual a importância dos músicos dedicarem parte do seu tempo ao estudo de temas ligados ao empreendedorismo, ao marketing e ao music business em geral?
Fundamental, qualquer professor de música hoje deveria acrescentar no seu material assuntos de business e os músicos TEM que estudar “carreira” tanto quanto estudam música. Eu brinco de dizer que antigamente a gente queria aprender a tocar guitarra e ia para a loja comprar guitarra e amplificador, hoje a gente compra guitarra, interface e uma câmera, rs. Um músico que não sabe nada de mídias sociais hoje em dia está morto.
5) Quais conselhos você daria para quem deseja trabalhar com produção musical?
Dedique-se a “fazer”. Você vai aprender fazendo e errando. Não seja “produtor de Facebook” que fica na internet mostrando o seu conhecimento de áudio que você adquiriu nos posts e vídeos dos outros. Grave pelo menos uns 30 discos inteiros, construa o seu procedimento primeiro.
Tenha consistência. Não escolha qual cliente que vc vai dar o seu máximo, aquele que você acha que vai dar certo. Faça o seu melhor possível para absolutamente TODO MUNDO que te procurar. Você tem que fazer ficar bom mesmo que a banda não seja. Toda banda que você produz é uma oportunidade.
Não perca tempo falando dos outros, convença que você é bom “fazendo” um trabalho bom e não tentando diminuir o colega produtor. Saiba produzir, gravar, mixar e masterizar. O profissionais que hoje se dão melhor são os “tudo em um”. Saiba que trabalhar com produção é muito bom, é uma vida especial, mas para você ter uma vida boa com isso vai ter que trabalhar ao ponto que até seu amigo médico vai se apavorar com o quanto de horas que vc trabalha. Estamos em 2018, gravar é a coisa mais simples e fácil que existe, ninguém mais precisa de um estúdio para se gravar. Isso significa que as pessoas só vão te procurar se você for capaz de proporcionar um resultado, no mínimo, 200% melhor do que o delas gravando sozinhas. Aprenda a gravar bateria de verdade, isso será um diferencial pra você.
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