Tum Cult entrevista: MC Versa sai do casulo em novo EP
A rapper abriu o coração e mostrou que ter atitude é também mudar e se aceitar
Metamorfose. Talvez essa seja a palavra que norteou o novo trabalho da MC Versa. A Confusão Das Transformações Inesperadas é o seu segundo EP, contém seis músicas e nos mostra uma versão diferente da artista, mais madura e leve. “Meu primeiro EP “Versos Expostos” veio ao mundo no início da minha carreira, quando eu tinha 18 anos e muita coisa engasgada a respeito das situações que eu vivia, era o momento de falar, de se impor. Agora nesse segundo EP eu entendo como um momento de reflexão interna, buscar arrumar a casa antes de querer resolver os problemas do mundo e convidar todos à essa reflexão dentro de si”, conta.
Além de rimar, compor, educar e arrebentar no freestyle, Versa descobriu outro talento: criou toda a identidade visual do EP. “Foi meu primeiro trabalho com o design de músicas minhas, desde o momento que achei a imagem da borboleta eu decidi usá-la, porque expressava exatamente o que eu queria passar, que sempre vamos estar em transmutação e constante evolução”, explica. Segundo a artista, a fonte e as texturas foram adicionadas “para dar um ar de mais leveza, que é como eu enxergo esse processo, com cuidado e sutileza”.
As fases de Versa
Escrever é a sua válvula de escape desde pequena, mas foi em 2016, na Batalhas das Minas de Florianópolis, Versa se conectou e começou a rimar. Antes disso ela já se identificava com o hip hop, atuando com movimentos sociais e arte educação, mas quando passou a participar das batalhas e fazer parte dos coletivos Trama Feminina e Dissemina Produções a coisa realmente começou a esquentar. “Meu trabalho só tem significado porque foi lapidado por todos esses coletivos, me incentivaram como artista, me ensinaram como pessoa, me fizeram evoluir numa visão profissional, artística e pessoal”, afirma. Para a MC, foi participando desses grupos que ela entendeu “a relevância e a importância que tem se posicionar como mulher e artista e se conectar criando redes de apoio entre essas mulheres”.
Respeita as mina
É sobre isso que falam as letras da compositora: o dia a dia da mulher, as experiências no rap, as atitudes machistas e as opressões vividas. Por ser mulher, Versa já teve dificuldade para participar de batalhas, já sofreu boicote, já teve o microfone cortado e os argumentos questionados. Mas chega de invisibilidade. Hoje o desejo da artista é “que nossa presença não seja mais vista como algo que não é usual ou como uma simples cota”. E se depender dela, essa quebra de paradigmas vai sim acontecer. “A gente traz a mudança quando se coloca nos lugares, quando dá oportunidades pra outras mulheres chegarem com a gente onde a gente chega, quando escolhe trabalhar preferencialmente com uma equipe de mulheres porque elas não vão duvidar da sua capacidade, porque ainda somos minoria e recebemos menos por fazer a mesma coisa, temos que ter ciência disso e trabalhar pra mudar isso porque nos afeta diretamente”, relata.
Hoje ela entende que o papel da mulher na música “é quebrar paradigmas, escrever e ter reconhecida a nossa história. É se tornar protagonistas e reverberar isso nos espaços que ocupamos”. Chegou a sua hora de ocupar. Voa, Versa!