Reflexões de um festival independente do interior de SC sobre 2024
Por Flavio Testa – Magnólia Festival
Depois de 2 anos de pandemia, onde tivemos que reinventar o fazer cultural, vieram dois anos de euforia. Em 2022 e 2023, houve uma certa empolgação e engajamento espontâneo para atividades coletivas. Foram anos de reencontros, de casa cheia e de uma certa urgência de fazer as coisas acontecerem. A questão política parecia voltar à normalidade institucional e, aqui, não coloco dentro de uma perspectiva ideológica, mas sim político-relacional com a volta das estruturas do Minc e retomada das políticas públicas de cultura.
Chegamos em 2024 e veio a ressaca de um mercado saturado pelo excesso de oferta. Muito festival de agência com pouco lastro em atividades culturais começaram a derramar programações, onde, mais ou menos, os mesmos 20 artistas se revezavam nas escalações de festivais recém-nascidos, com design e entregas saídas de uma linha de produção.
Quase um fordismo da tal “experiência”.
Neste momento, voltamos ao momento de reflexão sobre os festivais independentes voltarem ao seu lugar de origem e se reconectarem com sua essência. Aqueles que parecem ter sofrido menos impactos são aqueles que entenderam essa questão (ou nunca se perderam dela). Um festival independente de sucesso não está relacionado com o tamanho da bilheteria ou o empilhamento de medalhões no lineup. Até porque, esta batalha já estaria perdida de antemão.
O diferencial dos festivais independentes está ligado com as suas conexões, com os sentidos e significados construídos ao longo dos anos em sua comunidade, que vão além do entretenimento.
Para nós, do Magnólia Festival, é um momento de reflexão e realinhamento com os nossos valores, de reconstruir um movimento cultural no interior de Santa Catarina, que olhe de forma plural e não enviesada para as expressões artísticas na área da música. Em alguns momentos, interagindo transversalmente com outras linguagens, através de ações de difusão e formação, com foco no desenvolvimento da realidade artística local. É este olhar que nos diferencia e nos credencia como atentos executores de políticas públicas.
Dentro deste contexto, o TUM é um momento de reciprocidade e reconexão com nossos pares de outras regiões, aqueles que verdadeiramente entendem o peso de cada palavra aqui colocada. Sempre que vamos para o TUM voltamos com a bagagem cheia de aprendizados e pelo menos, uma ou duas novidades para trazer no festival do próximo ano. Assim reafirmamos laços, desenvolvemos afetos e renovamos nossas energias.