Políticas públicas culturais no Brasil

Postado em 20/10/2023, 19:32

Entrevista por Val Becker (RJ) – Rádio Graviola


Fabiana Lian foi cantora do grupo Mawaca e atuou em muitos projetos de música eletrônica, jazz e contemporânea. Desde 1995 atua como produtora artística em shows internacionais, tendo trabalhado com grandes artistas como Metallica, Madonna, Iron Maiden, Amy Winehouse, David Bowie, Elton John entre muitos outros em turnês no Brasil e na América Latina. À frente de sua produtora cultural, criou e trabalhou na programação de edições da Virada Sustentável, em casas noturnas e centros culturais.

Desde 2008, atua como coordenadora e professora de cursos na área de showbusiness e em 2014 fundou a On Stage Lab, a primeira escola de negócios de música e showbusiness da América Latina, que vem mudando o pensamento do mercado.

1- Como você está sentindo o movimento do mercado da música ao vivo nesse momento de retomada pós-pandemia de Covid. Como está se recuperando economicamente e quais são os desafios e oportunidades para artistas, casas de shows e promotores?

Bom, o mercado está, obviamente, visivelmente superaquecido, né? A gente tem visto a quantidade de iniciativas, festivais, turnês acontecendo no Brasil e no mundo. Muitos artistas brasileiros indo para fora! Hoje, a gente também tem mais shows internacionais, pela demanda que ficou reprimida e também pelo dólar que baixou um pouco, mas eu vejo algumas coisas com um pouco de cautela. O que tem me chamado a atenção é a quantidade de investimento em grandes festivais e grandes artistas e eu tenho um pouco de medo de concentração, sabe? Até porque isso vai mexer com uma longevidade das cenas artísticas… se o Lollapalooza, o The Town, o Primavera Sounds têm esse line-up super bacanudo, é porque já existiu um TUM, o Festival do Sol, uma SIM, que revelou esses artistas. Então é algo que eu vejo com alguma cautela. Mas, sim, tem muitas oportunidades exatamente pela quantidade gigante de eventos acontecendo no Brasil todo. E a segunda cautela que eu acho que a gente tem que ter é ao olhar para o futuro, porque a gente está vivendo essa efervescência hoje, mas talvez ela não dure mais cinco anos. Talvez daqui a pouco a gente tenha um assentamento, porque as pessoas também não têm dinheiro para consumir tanta demanda assim. 

2- Sendo uma das grandes ativistas pela presença feminina mais efetiva no mercado da música no Brasil, como você vê a atuação das mulheres, atualmente, nesse mercado? Em que áreas você acha que já alcançamos maior presença e em quais ainda temos que lutar para consolidar uma maior efetivação?

As mulheres têm ocupado lugares importantes na indústria. A gente tem bastante mulher hoje com a caneta na mão, em lugar de poder de decisão. É óbvio que ainda temos muita cultura machista em muitas áreas. Acho que ainda faltam espaços para as mulheres compositoras. E aqui, vindo para o meu quadrado da área de shows, eu tenho uma batalha pessoal, eterna, com a área técnica, que é o que eu chamo de último cuecão. Porque a gente está em todos os lugares, mas na área técnica nós ainda temos poucas, se comparado ao número de homens. E a gente não tem muito espaço nas grandes produções. Então, essa é uma área que acho que a gente precisa de formação e precisa de estímulo, né? Então, é algo que a gente precisa prestar bastante atenção e cuidar. Porque é um ambiente ainda muito masculino, alguns homens ainda se incomodam, vem com aquela desculpa de ela não sabe ainda, mas só que quando é um cara para aprender, eles ensinam sem problemas, né? Então, a gente precisa olhar um pouco para isso.

3- Como você vê iniciativas como a do TUM Festival e outros festivais, para a mudança de paradigmas e difusão de novas ideias e estratégias de planejamento, visando à maior profissionalização do mercado da música no país?

Eu acho o TUM uma coisa fundamental hoje na indústria, porque o TUM além de revelar talentos, está trazendo discussões muito importantes e está cuidando de um, regionalmente falando, cuida de uma área que não tinha nenhuma iniciativa nesse sentido e também está bastante concentrada em algumas mãos aí, então eu acho a Ivanna, acho o TUM um festival muito corajoso e muito importante, e é muito impressionante o quanto cresceu nos poucos anos de vida. Então, eu acho que é importantíssimo a gente ter iniciativas como essa, para botar essas discussões em pauta e trabalhar para a melhora do mercado.