O sol forte de Rawi
Por Leonardo Lichote
O som vinha da rua, de um megafone: “O show vai começar”. Era o próprio Rawi, primeira atração de sábado no Bugio (Palco Centro Leste do Tum Festival), convocando a plateia para sua apresentação. A imagem do artista confundindo fronteiras da rua – da noite plena de álcool, fumaças, energia sexual – e do palco é metáfora perfeita para a música que o artista levou ao evento.
Usando um vestido simulando trapos respingado de tintas – mas com um efeito moderno, espécie de Balenciaga da quebrada -, o paraense de Santarém comandou um baile que uniu cultura eletrônica de pista, tecnobrega e vigor punk. Acompanhado apenas pelo guitarrista Andrew Só, responsável também por soltar as bases pré-gravadas, o cantor apresentou músicas que estarão em seu álbum “Arte de bicha”, a ser lançado em breve.
Com títulos de canções como “Psycobrega” e versos como “Quando eu morrer vai tocar Lady Gaga”, Rawi desenha um universo queer paraense, com referências à Cobra Grande e a facas riscando o chão e dança “endoidada” de joelhos, com a bandeira do Pará cobrindo seu rosto. Ao fim do show, a plateia pedia bis, confirmando a força de sua música. Como ele perguntou a certa altura da noite: “Quem tem medo do sol forte?”