MOVIMENTO SUL UNIVERSAL

Postado em 23/12/2024, 18:53

Por Carlos Badia

O Rio Grande do Sul é um Estado absolutamente brasileiro, que musicalmente e artisticamente se nutre de todas as fontes da dita brasilidade, em todas as suas ricas vertentes rítmicas e estéticas. E, ao mesmo tempo, devido a sua localização geográfica fronteiriça, nutre-se também da música latino-americana, especialmente da Argentina e Uruguai. Musicalmente essa característica de Fronteira faz do Estado do RS uma região bastante peculiar.

Não é de hoje, especialmente na cena da música instrumental produzida no Rio Grande do Sul, que uma certa sonoridade tem aparecido, sido gestada e construída sem que adequadamente se percebesse nela características de um movimento musical, definido e consistente como se sabe agora que de fato é. O espantoso é que nem mesmo os músicos que a compõe e nem jornalistas, produtores, curadores e público, perceberam que, esta cena sendo algo extremamente estruturado musical e esteticamente, representasse de fato um Movimento Artístico. E que partindo de uma linguagem “particular”, original e mesmo regional/fronteiriça, dialoga com propriedade e amplitude com o “universal” da música. E nisso reside o que se designou como Movimento Sul Universal.

Atualmente, temos no RS vários grupos e artistas – não só da música instrumental – fazendo esta fusão. Que dialogam com propriedade e naturalidade desse seu Particular (sul) para o Universal (mundo). Do Sul ao Universal. Do Universal ao Sul. Influências que se misturam e se complementam, sem negar nem fugir de sua raiz e que, ao mesmo tempo, se transforma sem medo. Que traz a confluência de matrizes diversas, africana, europeia, indígena, árabe e, sobretudo, latino americana e brasileira. Um grande caldeirão cultural. Uma música genuína, regional, mas do mundo. Não necessariamente toda regional, mas carregando essencialmente estes matizes nos trabalhos. E com um diferencial importante: musicalmente essa característica de região de Fronteira fez com que, no RS, os músicos transitem com naturalidade na fusão da música brasileira com a latino-americana. Desta forma, os músicos dessa região de fronteiras absorveram consistentemente a cultura brasileira no seu todo e ao mesmo tempo a música dessa zona fronteiriça.

A transversalidade de linguagens no contexto da música feita no RS, criou uma atmosfera, uma estética e sonoridade própria. Mergulhados na música brasileira desde sempre, com domínio dos ritmos, digamos, mais óbvios enquanto “ritmos brasileiros”, essa música do RS – especialmente a instrumental – transita com absoluta naturalidade também, e desde sempre, entre milongas, chamamés, zambas e chacareras (por exemplo), ritmos absolutamente naturais no RS, estado brasileiro. Então, porque não afirmarmos que esta música, com estes sotaques, naturais em um estado “brasileiro”, não é também “Música Brasileira”? Por isso afirma-se na logomarca criada: Sul Universal – Música Brasileira.

O Brasil precisa se conhecer mais e se reconhecer também sul-americano. E esse verdadeiro sotaque musical original, que carrega junto a mais universal sonoridade pulsando, tal qual o Condor andino, ou o Urubu brasileiro, avista múltiplos horizontes ao longe. 

Cada vez mais, estamos aprofundando a percepção de que temos um Movimento Artístico. E este Movimento, que vai além de se apresentar ao mundo, pretende também propor:

► políticas públicas (entre elas a de exportação da nossa música para fora do estado);

► instigar os setores públicos e o privado a investirem de forma a ampliar o alcance e fruição de nossos artistas;

► questionar propostas de normativas e leis que julgarmos equivocadas, criarmos pontes artísticas e de fomento com a américa latina e o resto do mundo;

► Gerar posicionamentos políticos, sociais e artísticos e apoiar iniciativas humanitárias. Conectar o RS inteiro trazendo artistas e ideias de todos os cantos do Estado.

► Promover intercâmbios com outros Estados e outros países através de seus Consulados e Embaixadas.

► Criar projetos próprios, especialmente ligados a educação e a formação de plateia.

► Promover nossa música e Cultura pelo Brasil e América Latina toda.

► Participar como Movimento de feiras de Music Business no mundo todo promovendo nossos artistas. 

► Estabelecer real aproximação com a Academia e buscar realizar uma pesquisa sólida acerca dos ritmos do RS. Enfim, marcar uma presença firme e forte visando apresentar nosso Estado para além dos estereótipos característicos que outras culturas tem sobre o gaúcho e sua cultura. E demonstrar também para o próprio povo gaúcho que podemos ser autênticos, verdadeiros e ligados à nossa cultura sem sermos caricaturas de identidade regional e um pastiche cultural. Como disse Paixão Cortes, “ Não é preciso bancar o grosso ou parecer ignorante para justificar autenticidade. ” Essencialmente, toda Tradição nasce com a chama da Liberdade, e por isso não podemos engessar nossas tradições em lugares comuns, repetidos mecanicamente sem organicidade. Queremos ampliar a visão sobre a música feita no RS e sermos vistos como brasileiros fazendo música brasileira a partir de nossas fontes, que vem de múltiplas fronteiras.

O Estado do Rio Grande do Sul tem uma cena musical desse SUL UNIVERSAL absolutamente consistente, com cada vez mais grupos e artistas relevantes do RS fazendo esta fusão. Assim, em meados de 2022 integrantes destes grupos iniciaram uma série de reflexões que desembocaram numa conclusão um tanto surpreendente: de fato, nós temos um movimento musical. Um movimento que parte dos nossos ritmos “gauchos” que são naturalizados para nós, mas que para outras regiões do Brasil soam estranhos. E que, a partir disso, os grupos têm criado uma música de fusão numa perspectiva artística regional e universal. Não é simplesmente tocar os ritmos. Mas, a partir deles, universalizar a música que se faz.

Isso é algo que tem sido feito há muito tempo, embora só agora está sendo designado como um “Movimento” musical. A existência dessa estética artística feita por estes artistas não é recente, mas tem hoje uma solidificação e uma substância diferente de tempos atrás. Ela não é nova porque temos uma trajetória por trás, que vem das gravações de “Os Cobras do Teclado”, Tio Bilia, Os Bertussi, Dupla Mirim (Antoninho Duarte e Albino Manique) que sempre em seus LP’s gravavam temas instrumentais que abriam caminhos, assim como Lucio Yanel quando chega ao RS, o percussionista argentino Perez quando traz esta percussão latino-americana, com Luis Carlos Borges quando faz fusão, Geraldo Flach quando amplia ainda mais esta universalização, Renato Borghetti quando surge e começa a estabelecer em seguida uma ponte com o universal, mesmo sempre voltando à música mais raiz. E, claro, de Yamandú Costa que sempre carrega essa raiz no toque de seu violão e em suas falas pelo mundo afora.  Especialmente no que tange a música instrumental, cabe destacar que não se trata simplesmente de grupos de projeção folclórica, ou mesmo grupos de folclore, pois já se percebe que essa música tem sido mais facilmente classificada como World Music ou mesmo simplesmente Jazz. Dentro do Movimento Sul Universal e da Associação criada, tem grupos instrumentais, grupos de RAP, trabalhos com raízes africanas (como Maçambique, Tamborada), violeiros (viola dita caipira) que traçam uma estética própria que vai do Sul ao Universal.

Para finalizar, o Movimento Sul Universal, que agora se estrutura como um Movimento organizado e atuante na cena cultural do Estado, do país e do mundo, criou em 2024 sua Associação (com CNPJ) e projeta para 2025 sua Escola de Música Sul Universal. Além disso, uma série de projetos e ações estão sendo planejadas a partir de agora para que o Sul Universal seja cada vez mais reconhecido. Para abril de 2025 será realizado em Encantado e Lajeado o 1º. Festival Sul Universal de música.