Live Tum Cult: Simone Marçal fala dos desafios e oportunidades em tempos de crise
A convidada deu um panorama do setor cultural e falou sobre alternativas para
monetizar no período de quarentena
O mundo está em mudança. Rotinas, hábitos, trabalhos, processos e estruturas: tudo alterado. E a cultura também. Nesse mar de incertezas, há quem busque novas possibilidades. Há quem esteja perdido. Muita gente não sabe por onde (re)começar. E ninguém sabe a fórmula! Mas em contato com diversos profissionais do setor cultural, vislumbramos caminhos possíveis. Em conversa com a Simone Marçal, na live realizada no instagram da Tum Cult no dia 9 de abril, a gestora cultural trouxe algumas informações sobre monetização durante a crise, falou sobre editais e o mercado da economia criativa.
Poder público
Em muitos estados, os governos já lançaram editais, descontos de impostos e linhas de créditos. Para Simone, é preciso que os profissionais cobrem por medidas de apoio ao setor: “Os governos precisam melhorar a atenção com a cultura, mas acho que primeiro a gente tem que se reorganizar, a gente não tem representatividade política e o poder público só funciona sob pressão”. Segundo Marçal, “a gente tem que aprender a cobrar e começar a se articular politicamente também”.
Editais
Entre alguns editais e ações de curto prazo citadas na conversa, Simone pontuou: “É uma dificuldade muito grande para as pessoas pegar a ideia delas e colocar no papel”. A profissional, que já avaliou dezenas de projetos do Ministério da Cidadania, ANCINE e FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), conta que, no geral, as pessoas acham muito difícil a leitura dos editais e a elaboração dos projetos, mas entende que cada fase é necessária: “eu acho que o dinheiro público tem que ter mesmo um processo”. A consultora em projetos também sugeriu: “Se você não gosta de escrever, faz parceria com quem gosta, ninguém é sozinho”.
A respeito dos editais que estão sendo lançados durante quarentena, “as pessoas têm que começar a acessar os editais. Em geral a verba é pouca, mas é melhor do que não ter nada”, afirmou a consultora em projetos. E soltou a dica: “Não deixe de fazer, não tenha medo, inscreva, corra atrás”.
Internet
Para Simone, a internet deve ser usada como um instrumento de trabalho, pois é uma forma do artista acessar outros públicos. “Talvez seja importante que você comece a entender qual é a sua plataforma. Você tem que ir se testando, testando as plataformas que existem e as que vão vir”, sugeriu.
Sobre a enxurrada de lives e shows online, “eu acho que valem para você se manter ativo, porque você está um dia ou outro aparecendo, conversando”. Porém, a produtora cultural afirma que é preciso melhorar esse processo, como pensar na iluminação, no áudio e em como o público vai ver o artista. Para ela, o profissional “tem que pensar e começar a se autoanalisar.
Além disso, tem acontecido muitos festivais online, mas ainda não se tem um levantamento do resultado final das apresentações. “É importante que você entenda o resultado das suas ações, porque isso faz com que você possa planejar”, explicou Simone, que também é diretora do Formemus – conferência do mercado da música, de Vitória/ES.
Põe a cabeça para funcionar
Consenso geral, a quarentena tem sido época de se organizar. Simone acredita que é a oportunidade de os profissionais da economia criativa colocarem a casa em ordem: “Faz um curso, vai registrar suas músicas, vai procurar festivais, começa a preparar material”.
Também é tempo de colocar a documentação em dia e pensar na profissionalização, como emitir um CNPJ e criar um cadastro de MEI. “Os músicos, os profissionais, não veem a música como mercado. Eles precisam entender que é um mercado”, afirmou.
Em frente
Simone contou que logo deve começar a fase de pré-produção do Formemus – conferência do mercado da música, que acontece anualmente em Vitória/ES. Ela explica que manteve a data do evento para final de agosto, mas que será adiado se for necessário devido ao coronavírus: “a gente acredita que tem que fazer, vai alimentando a gente. A gente quer que as pessoas se sintam num movimento”. Ela acredita que os festivais também terão que fazer mudanças de estruturas e que a retomada no segundo semestre acontecerá de forma gradual. “Eu acho bom porque os festivais vão se abraçar também, sabe… Tá todo mundo nessa, vamos continuar existindo”, relatou.
A cultura sempre esteve em crise, com cortes de verbas, muitas vezes colocada como algo supérfluo, apenas entretenimento ou até como hobby para os trabalhadores do setor. “As pessoas não entendem que a cultura é fundamental para a identidade de um povo, sem isso você não consegue se reconhecer”, argumentou. Mas a produtora também acredita em dias melhores: “Eu acho que quando passar, as pessoas vão começar a voltar a normal, espero que mais conscientes”. “A gente tem que ter esperança, tem que acreditar. Quanto mais gente ficar em casa, mais
rápido vai passar”, finalizou.