Joana Knobbe na Rodada de Negócios do TUM

Postado em 18/10/2018, 0:00

Joana Knobbe

A cantora, compositora, além de intérprete-criadora em dança e teatro, Joana Knobbe, nascida em São Paulo, mas criada em Natal, morou dez anos em Florianópolis e atualmente vive em Natal volta à Capital Catarinense para participar da Rodada de Negócios do TUM Sound Festival. 

Mulher, compositora, mãe, artista! A ordem não altera o sentido das atividades que desenvolve diariamente. “Ser mulher infelizmente ainda é crescer sem poder ser toda a plenitude que poderíamos ser. É ter que se esconder, é ter que lutar para não ser invisível. É se auto-impor torturas diárias para ser aceita. É ter que aceitar ser inferior ou se impor às custas de uma doçura perdida. É ter que ser 10 vezes mais para chegar perto do que se almeja”, expõe Joana. Para ela, ser mãe é ter que ser tudo isso e ainda querer não ser nada disso e só ficar “lambendo a cria”, amando, cuidando, acompanhar cada passo e cada sorriso. “Ser mãe de menina é ter muito mais medo. E muito mais garra, como uma fera selvagem mesmo”, explica.
Quanto ao ser compositora…. Joana diz que deveria ser igual a ser um compositor homem, com estudos, enfrentando desafios técnicos no instrumento, na teoria, colocando a criatividade para turbinar e criar. “Mas se você é mulher, então fica mais difícil. Mas a criação também fica mais forte. E tem mais dor, mas também tem mais superação e esperança”, conclui.
E quando se é mãe e artista? Joana explica que é como em qualquer outra profissão! “Você tem uma jornada tripla, você é julgada quando sua criança não tem a mesma rotina padronizada das outras crianças. Você ainda sofre quando faz uma tour e tem que deixar sua cria com a família (provavelmente a vó). Você também é julgada e culpada se qualquer coisa der errado. Mas mesmo com tudo isso, quem tem o pulso da criação e da arte na alma, sabe que precisa disso pra viver e para ser uma pessoa plena, um exemplo digno para os filhos”.

Na sequência, acompanhe a entrevista completa com Joana Knobbe.

TUM Sound Festival: Você como mulher, compositora, mãe… Como você percebe o protagonismo feminino na música?

Joana Knobbe: Eu vejo o protagonismo na música da mesma forma que em qualquer outra atividade profissional. Percebo que passamos muito tempo inconscientes de nossa força e potência. Mesmo após termos conquistado alguns direitos, dentro das relações mais íntimas e também nas relações profissionais, ainda tínhamos que “pedir licença” e ainda caíamos em algumas falsas ilusões de respeito e liberdade. Agora estamos mais despertas, mas essas falsas ilusões de empoderamento e liberdade ainda nos rondam como fantasmas. Precisamos continuar atentas. De qualquer forma, esse despertar já vinha sendo gestado há muitas décadas, mas finalmente estamos percebendo que precisamos nos aceitar, intimamente e aceitar umas às outras. Estamos percebendo que juntas somos muito fortes. Na música, nós tínhamos um papel predominante onde a mulher era aceita: a intérprete/diva. Enquanto éramos invisibilizadas em outras áreas do fazer musical: instrumentistas, compositoras, maestrinas, arranjadoras, produtoras musicais, técnica de som, palco, luz, etc.
Hoje, temos diversos movimentos, tanto de formação e capacitação profissional e também eventos como shows e festivais, em que as mulheres estão assumindo esses papéis e reivindicando seu reconhecimento neles.


TUM Sound Festival: A cena está mudando? As mulheres estão tendo mais visibilidade de fato?

Joana Knobbe: A cena já mudou! Muitos festivais passaram a valorizar as mulheres que estão ou estiveram em seus palcos e também começaram a atentar para a questão de gênero nas escolhas da curadoria. Isso gera um movimento muito bonito, que com certeza tem e terá como consequência a formação de um público mais atento às obras femininas e também o incentivo para que mais meninas e mulheres enveredem pela carreira musical.
Mas novamente essa conquista se deu muito por empenho nosso. Tivemos que literalmente “chutar a porta”. O Sonora Festival Internacional de Compositoras, por exemplo, é uma dessas iniciativas. Ele acontece desde 2016, em rede, em diversas cidades do mundo no mesmo período do ano para causar esse “boom” de mulheres compositoras nas redes e nos locais onde o festival acontece. Pensamos o festival para que fosse impossível nos ignorar e fingir que não existimos.


TUM Sound Festival: Ainda tem muito machismo na programação e na curadoria para artistas mulheres?

Joana Knobbe: Sim. Infelizmente ainda somos vítimas de algumas formas de machismo tanto dos homens como das próprias mulheres. É importante que a curadoria tenha uma motivação genuína de promover a igualdade de gênero tanto em visibilidade como em valor de cachês e não apenas siga um “modismo com intenções comerciais”. Eu tenho observado muitas iniciativas louváveis a favor das mulheres na música. Mas também precisamos fazer com que todo esse empenho, trabalho e esforço em prol de uma causa, torne-se também uma fonte de renda real para quem está envolvida.


TUM Sound Festival: Pensar em música como um mercado?

Joana Knobbe: Um equilíbrio na corda bamba entre a sustentabilidade financeira e a vontade de criar com liberdade e verdade interior, de alimentar o tempo com experiências transformadoras, com mais contato, mais encontros, mais sensibilidade e sutilezas.

TUM Sound Festival: Como está o cenário do Mercado da Música atualmente? E como fortalecer o mercado produtivo da música?

Joana Knobbe: O cenário do Mercado da Música está como o cenário visual do centro de uma cidade. Muitas placas, muitos anúncios, muitos avisos, muita gente vendendo os mais variados tipos de produto, muito ruído, muitos sons, muito 1,99, muita coisa boa com pouca visibilidade, muito tudo. É claro que sempre estará mais visível a placa do produto em que se investe mais dinheiro, aquele out door luminoso e gigante sempre alcança mais gente. Mas há algum espaço para todos. E quando um grupo une forças e cria estratégias, também pode chegar longe.
As pessoas que criam precisam ser realmente inovadoras e criativas. Precisam pensar além da música. Precisam interagir com outros campos de conhecimento que estão diretamente conectados à música. Acredito que é necessário carregar alguma verdade no trabalho, um motivo pelo qual aquela música é necessária para as outras pessoas, para a sociedade, para o mundo e para a sua própria existência. Reconectar, reagregar. E com toda a certeza, #eleNão.
Além disso, precisamos encontrar estratégias de sensibilização das pessoas em geral para desenvolver uma sociedade mais inteligente e compassiva. E a música é um dos meios poderosos de promover isso, assim como também é um meio poderoso de promover o contrário disso. “É preciso estar atentx e forte”.


TUM Sound Festival: E os desafios do Mercado produtivo musical, quais são?

Joana Knobbe: Creio que o maior desafio seja a sustentabilidade material dos indivíduos que trabalham no mercado da arte. O sistema ao qual estávamos habituados está em ruínas. E talvez nós possamos encontrar, ou já estejamos encontrando outras possibilidades de valoração e valorização da nossa atividade profissional.

TUM Sound Festival: Qual a importância de eventos como o TUM Sound Festival para a cadeia produtiva da música?

Joana Knobbe: Os festivais e feiras como o TUM Sound criam espaço-tempos de encontro, de troca e de maturação de ideias em coletividade. Acredito que esse seja o caminho essencial para a construção de estratégias bem-sucedidas.

TUM Sound Festival: O que você espera encontrar no TUM Sound Festival?

Joana Knobbe: Pessoas inspiradoras, produtores com mega experiência, artistas incríveis e pessoas queridas para abraçar e matar as saudades! Além de Floripa, cidade em que morei 10 anos, onde assumi a música como atividade profissional e onde nasceram da minha filha e minhas primeiras composições <3

Música é… movimento