Empreendedoras brasileiras muito além dos estereótipos
Hoje acontece a estreia oficial do portal www.tumfestival.com.br, e coincidentemente é também o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino.
Dia de celebrar elas que enfrentam diversos obstáculos para empreender em um mundo que passa por um momento de quebra de paradigmas e a criação de novos modelos de negócios. Mulheres empreendedoras de sucesso, em negócios conectados à cultura e inovação, de norte a sul do Brasil, responderam a nossa pergunta: mas afinal, quais são as “dores e delícias” de ser empreendedora no Brasil?
Betânia Furtado, Cineasta: “Não é para qualquer uma. / Sinto dor / Física / Desconforto / Mãos que suam / a cada retrocesso cultural / Matamos um leão por dia / e embalamos o bebê que chora / Machismo estrutural / Mas nossas delícias / vem com o tempo / o olhar de um menino / a risada da criança. / Trabalhar com arte / é ver no outro / o reconhecimento do nosso trabalho / na felicidade do idoso / fazer as pessoas felizes / Mais leves / Num lugar que toca / independente de cor / escolhas sexuais / idade / A cultura alcança a alma / o coração / e é neste lugar / que quero estar.”
Maria Pongue, Presidente da ONG JCI em Florianópolis, Consultora de Micro Negócios e Franqueada da www.janeladoempreendedor.com.br na Namíbia/Continente Africano: “Eu diria que as dores de ser uma Empreendedora no Brasil, sendo eu estrangeira, a primeira coisa foi o posicionamento, como me posicionar num país novo, um país desconhecido, e com isso vem a burocracia também. E existem tantas e tantas dores, mas estas foram as principais que eu acabei encontrando. E no que tange à inovação, porque aqui o Brasil é um país apesar de estar crescendo muito ultimamente a questão do empreendedorismo, mas eu considero o Brasil um país que já tem muitos empreendedores. Já tem muita gente correndo atrás para criar seu próprio negócio.
Então como estrangeira, você se posicionar e conseguir o espaço acaba sendo uma das principais dores no começo. As delícias de ser uma empreendedora aqui no Brasil e a flexibilidade de horário, e também eu vim de um país onde a internet não é tão viável assim. Aqui no Brasil encontrei algo muito muito ao contrário. Então eu posso trabalhar on line e como posso trabalhar de forma presencial. E você acaba alcançando mais gente em pouco tempo. Então eu diria que uma das delícias é essa. E claro, a questão do networking também. Você acaba conhecendo um monte de gente, um monte de pessoas, parceiros, amigos, que acabam se tornando uma família.”
Raquel Brust, Fotógrafa e Artista Visual: “Ser uma empreendedora brasileira é viver uma aventura diária. É necessário saber administrar, além de seu próprio negócio, suas expectativas e ansiedades. Sinto que é preciso se dedicar incansavelmente e não se deixar abater pelos desafios.
Na área da cultura, que infelizmente é tão desvalorizada no nosso país, é ser ainda mais complexo conseguir realizar um projeto e se manter no mercado. Por isso devemos valorizar muito todos os profissionais envolvidos no setor e celebrar a cultura brasileira!”
Bárbara Beats, Cantora e Compositora: “Sou cantora e influencer e acredito que uma dificuldade de ser uma empreendedora brasileira é a de ter que superar uma mentalidade que mulheres não são auto-suficientes para gerar um lar, uma renda, negociar. Diversas vezes, já passei por comentários machistas como “só conseguiu porque tem corpo, porque é mulher”, e infelizmente isso está enraizado até nos meus próprios pensamentos, no qual já existiu autosabotagem e insegurança.
Mas a partir do momento em que eu arrisquei e coloquei meu desejo em prática e deu certo, muita coisa mudou e passei a ter mais confiança para crescer e agora penso que se algo não deu certo, não era o momento ou é porque existe outra oportunidade na mesma categoria ainda melhor, uma outra collab que vai valorizar uma mulher.
Por outro lado, saber que pessoas que podem estar passando por situações abusivas, ou por dificuldades podem se inspiram em você e sair dessas algemas sociais que nos aprisionam, é algo totalmente significativo e motivante. É essencial se sentir representada, seja em qual meio for, saber que tem pessoas nas mesmas condições que a sua, e conquistando metas, te impulsionam a colocar tudo em prática e assim isso gera uma troca constante, em uma cadeia de mulheres que se inspiram.”
Mirella de Luca, Empresária Artística: “O empreendedorismo é desafiador, acumulo diversas funções, ainda vivo fora da cidade que nasci, não tendo amparo de família e amigos. Vivo em eterno diálogo, já que nem sempre há o estímulo e a consciência de que filho e casa são responsabilidades apenas da mulher”.
Elana Dara, Cantora: “O empreendedorismo diz muito sobre uma pessoa. Uma mulher empreendedora diz ainda mais. Com o tempo estamos conseguindo igualar nossos direitos, mesmo que ainda sendo uma luta diária, mas as dúvidas da nossa capacidade e a necessidade de provar a qualidade e excelência do nosso trabalho ainda é muito presente.Apesar de todos os altos e baixos do empreendedorismo, nos fortalece profissionalmente e ainda mais na personalidade e como lidar com nossas questões pessoais. É incrível ver um trabalho seu, idealizado por você, do zero, acontecer, ter sucesso, como um filho seu no mundo. Quando da errado, aprendemos a entender os motivos, o que fazer pra melhorar, e usar isso pra evoluir. Precisa ser forte, criativa, inteligente, aprender a se adaptar e inovar, mas vale muito a pena.”
DJ Donna, Produtora Cultural: “Nascemos empreendedoras de nós mesmas para que possamos nos inserir no mercado o qual em toda sua dimensão, é sempre em maioria homens. Com objetivos de igualar números, salários e ter nosso espaço mais que merecido pela nossa capacidade, a maior satisfação em ser empreendedora, é poder abrir portas para outras mulheres e fazer o possível para diminuir os obstáculos que dificultam toda nossa caminhada, nossas conquistas.”
Anaadi, Cantora e Compositora: “Acho que posso falar do meu lugar interseccional de mulher negra de classe média. Ser uma empreendedora da cultura desse lugar e no contexto brasileiro exige coragem, desejo, criatividade e muita persistência, porque os desafios são muitos. A começar que mulheres negras têm muito menos espaço na mídia, e eu lembro que precisei trabalhar muitos anos pra ter uma foto grande no jornal, enquanto meninas brancas que haviam começado suas carreiras há seis meses já tinham foto publicada. Uma outra dor acho que diz respeito ao monopólio que se tem hoje no mercado musical. São dois estilos que são escutados praticamente, então se torna muito mais desafiador vender um trabalho de MPB, por exemplo, ou de Samba, ou de Jazz, porque esses estilos não atingem mais as massas, então se torna super difícil de conseguir patrocínio para as produções.
Entre as delícias, destacaria como a primeira a possibilidade de fazer arte independente e dirigir o modo como você quer fazer uma obra, ou um espetáculo ou um evento. Também é deliciosa a possibilidade de trabalhar com a cultura e a música brasileira, que nos oferece uma gama de possibilidades, estéticas e temáticas muito ampla, assim como a gama de colaborações, pois temos muitos artistas talentosos no Brasil. Então é uma delícia ser empreendedora cultural e artista ao mesmo tempo, porque esses trabalhos contribuem pra promover transformações importantes na sociedade”.
Célia Lima, Produtora de Elenco e Empreendedora Cultural: “Ser Empreendedora no Brasil é matar um leão por dia. Quando me lembro que independente do meu esforço, do meu profissionalismo, em alguns setores corporativos eu ainda não recebo o devido respeito, apenas por ser mulher e em especial, por ser uma mulher negra, é uma dor imensa. Poderia citar aqui vários casos, mas me lembro agora de uma certa vez em especial, quando fui ao banco sacar uma quantia de dinheiro expressiva da minha conta empresarial e fui abruptamente abordada pelo gerente do banco que me olhou dos pés a cabeça, questionando-me se eu realmente era a CEO da minha empresa na frente de um considerável público presente.
Mas todos os obstáculos, servem apenas para nos fortalecer e isso traz muitas alegrias. Começando pelo reconhecimento por parte da minha equipe e dos profissionais do meu segmento, independente do gênero, idade ou qualquer outro fator. Também recebi prêmios notórios na minha categoria e inclusive fui convidada a conceder uma entrevista a Oprah Winfrey justamente por eu ser considerada pelos meus colegas a mulher negra mais bem sucedida no meu seguimento (Produção de Elenco) em toda a América Latina. A proximidade com astros e estrelas, tais como o Rei Roberto Carlos, o astro hollywoodiano Danny Glover, a Dama do Cinema Nacional Fernanda Montenegro… Dentre muitos outros, também é emocionante e gratificante.
No geral tenho que batalhar constantemente e visivelmente muito mais que um homem para me impor diante de executivos nas grandes corporações, tenho que relevar as vezes a falta de decoro dos costumes machistas com seus comentários sexistas e total desinformação sobre como se comportarem diante de uma executiva mulher… Mas apesar de tudo tenho esperança de que minha filha sendo também uma mulher executiva, herde um mercado mais culto e bem preparado para receber igualmente profissionais de qualquer gênero.”
MC Versa, Rapper e Produtora Cultural: “Ser uma mulher empreendedora na indústria cultural brasileira, é lidar com a invisibilidade, com o descaso com as políticas públicas voltadas a cultura, com os espaços majoritariamente ocupados por homens, com as dificuldades de acesso à informação e diversas barreiras que perpassam os gêneros, cores e classes. Mas também é se sentir motivada com as conexões feitas nesses jornada, com todas as palavras de incentivo de outras mulheres que se identificam e se enxergam na sua trajetória, com o avanço das questões de gênero e de diversidade e com cada vez mais corpos diversos ocupando espaços e escrevendo nossas próprias histórias. Perceber-se como dona do próprio destino, entender que somos potências e que podemos alcançar nosso objetivos porque nos enxergamos e nos fortalecemos como um todo, quando avançamos.”
Doriana Farias da Hora, Jornalista e Produtora Cultural: “Empreender não é uma tarefa fácil. Considero inclusive um teste de resistência e um grande desafio emocional. Nem sempre é possível ser super mulher, mãe e profissional de sucesso. Mesmo com capacitação e determinação, é necessário ter maturidade pra enfrentar as barreiras econômicas, culturais e sociais.
Mas ser uma empreendedora também têm suas vantagens. O empreendedorismo te concede habilidade e autoridade para decidir e fazer a diferença no mercado machista. É um ganho de autoestima e conhecimento constante, desenvolvimento com rendimento financeiro e motivação para continuar fazendo o que gosta, permitindo mais qualidade de vida.As mulheres empreenderas, sabem o que querem, enfrentam os desafios e lutam por seus desejos com mais consciência. E ter essa consciência nos empodera.”