Empoderamento vindo da rua e dos livros
Por Leonardo Lichote
A força da figura de Negra Jaque — rapper criada no Morro da Cruz, em Porto Alegre — ocupou o Bugio na noite de quinta-feira, pela programação do Tum Festival. Acompanhada apenas pelo DJ Ita, ela mostrou seus versos de afirmação negra e feminina defendidos com vigor e autoridade de quem tem em sua formação a sabedoria da periferia, da rua e da academia — formada em Pedagogia, ela é professora e autora de livros como “Linhas de cura: ensaios sobre rap, negritudes e outras formas de existir”.
Trabalhando sobre arquétipos como a guerreira, Negra Jaque canta temas como a beleza do cabelo crespo e a ancestralidade. Musicalmente, a partir da base clássica do boom bap ela dialoga com gêneros negros como o samba — com direito a marcação de palmas de partido alto — e funk carioca.
Mais do que a potência política de palavras de ordem, suas rimas têm sustentação literária. Ela dá pistas da origem dessa base ao contar que era menina que vivia enfiada na biblioteca: “Com 12 anos estava lendo Machado de Assis e José de Alencar”. A partir dali, foi só adicionar o grave ritmado.